Certamente vocês não irão se lembrar da Ana. Faz tanto tempo que contei a história dela por aqui...Ana, a mulher, tão menina na sua forma de sentir. O tempo passou, muita coisa mudou. Mas nem tudo. O tempo passou "como passam as vontades que voltam no outro dia", assim como diz a canção. François La Rochefoucauld disse que "a distância diminui as pequenas paixões e amenta as grandes, como o vento apaga as velas e atiça as fogueiras". Só não sei se ele contou que há paixões que parecem diminuir com a distância, mas estão apenas adormecidas, esperando que alguém as desperte com um sopro de nostalgia. E foi assim que aconteceu.
Ana, naquele tempo, decidiu seguir sua vida, deixando espaço para que Pablo fosse feliz. Em companhia de Mariana ou sozinho, em sua própria e única companhia, não importava; ser invasiva não era mesmo o forte de Ana e ela sabia a hora certa de se retirar. Mas a verdade é que Pablo escolheu a solidão. Ou a solitude, melhor dizendo. Passado algum tempo, e tendo a certeza de que não atrapalharia nada, Ana manteve algum tipo de amizade com Pablo, se é que assim se poderia chamar o que eles tinham. Chegaram a encontrar-se uma vez mais, em um evento, como os "amigos" que agora eram. Não que algo tivesse sido acordado a esse respeito entre eles, mas era o que parecia. Havia mais pessoas por ali. E estar tão perto dele após dois meses de distanciamento ainda era perturbador para Ana. Que tentava ao máximo disfarçar o coração que batia tão forte com aqueles centímetros de proximidade e ao mesmo tempo, com o muro invisível entre eles. Que, quando ninguém estava olhando, ainda o admirava. Seu rosto, seus trejeitos, seus cabelos. Aquele encanto que ele tinha, que ela não sabia explicar, nunca soube, só sabia captar. E naquela tarde também choveu. Mas dessa vez não houve beijos, não houve muita proximidade. Apenas conversas descompromissadas, superficiais e rápidas entre um medo e outro de encará-lo nos olhos e deixar transparecer o que ainda pulsava dentro dela. E à noite o evento acabou. Não houve beijo de despedida, apenas um abraço que ela passou a crer que seria o último. Seria um adeus? Quem poderia saber?
Os dias se passaram. Distanciamento e nem sequer uma troca de curtidas nas redes sociais. Cada um para o seu lado, como devia ser. Ou como eles achavam que devia ser. Enfim.
Um ano se passou. Ana esqueceu Pablo, dedicou-se a outra paixão, se perdeu em outro amor, desses quem parecem arrancar um pedaço do coração em um curto espaço de tempo. Foram seis meses de angústia imersa em mais um desses envolvimentos onde ela sentia por dois e só gerava dúvidas até o dia em que Ana decidiu terminar o que não havia começado direito com essa "nova paixão". Na mesma noite em que ela ligou marcando o encontro para o dia seguinte, que marcaria o fim de mais um relacionamento mal sucedido, uma mensagem chegou. Era Pablo. Depois de um ano sem notícias, ele aparecia novamente. Ana passou meses se reconstruindo dos pedaços em que havia sido quebrada e Pablo era novamente um amigo.
Mas Ana não queria mais saber dessas idas e vindas. Foi curar seu coração com um namoro que ao longo do tempo percebeu que foi um erro, que não existia amor de verdade, apenas carências a ser supridas. O namoro acabou. Ana respirou. Escolheu a solitude. Escolheu cuidar de si. E, é claro, mais uma vez o tempo passou.
Mas Ana não queria mais saber dessas idas e vindas. Foi curar seu coração com um namoro que ao longo do tempo percebeu que foi um erro, que não existia amor de verdade, apenas carências a ser supridas. O namoro acabou. Ana respirou. Escolheu a solitude. Escolheu cuidar de si. E, é claro, mais uma vez o tempo passou.
Numa tarde qualquer, Ana passeou pelo perfil de Pablo em uma rede social. Sentiu uma saudade de leve, há tanto não se falavam. E dessa vez, quem decidiu reaparecer foi ela. E eles se reaproximaram aos poucos. Mas a história ainda não teve o final que vocês certamente esperam. Houve reencontros. Bares, conversas, passeios. O beijo que ela não esperava, mas que voltou a acontecer. E, num belo dia, a entrega entre os corpos e as almas - a entrega que ainda não havia existido entre eles. Era estranho. Era aquele momento que por tanto tempo ela havia desejado, mas que só aconteceu quando ela já não acreditava mais que aconteceria. Muitas águas rolariam, mais algum tempo passaria. Sem que Ana conseguisse fazer de seu corpo morada de mais ninguém. E eles se pertenciam, mesmo estando juntos sem estar. Mesmo entre mais distanciamentos, idas e vindas.
Por vezes Ana quis encerrar esse ciclo, sem muito sucesso. Algum magnetismo sempre os unia novamente. Até o dia em que ela decidiu dizer adeus. Sem dizer palavra. Deixando apenas o silêncio dar qualquer satisfação.
Ana e Pablo tentaram seguir suas vidas. Tentaram encontrar outras pessoas. Pablo tentou respeitar o silêncio de Ana. Mas não conseguiu por muito tempo. Todas as tentativas de seguirem um sem o outro foram inúteis. Era como se os sonhos que Ana tinha, recorrentes, mesmo distante dele, revelassem que algum fio invisível os mantinha ligados.
Pablo decidiu quebrar o silêncio e falar com Ana. Ela não queria falar com ele. Acreditava piamente que ele nunca se importou. Que sempre foi só um jogo. Que há muito ela não queria mais jogar. Mas Pablo sentiu a falta dela. Nunca quis que fosse um jogo.Só não conseguia ler as entrelinhas de Ana. Ele também sabia que estavam ligados, embora também tenha tentado ignorar e negar isso tantas vezes. E dessa vez ele estava certo de que não iria deixá-la escapar. Não dessa vez. Não mais.
O tempo e as circunstâncias os fez amadurecer. Hoje estavam diferentes, mais seguros e certos de seus sentimentos. O que parecia ter morrido só estava adormecido. Só estava encoberto por nuvens de imaturidade e dúvidas. Mas agora existia uma certeza. Seus corações diziam, da forma como sabiam dizer, que dessa vez o amor veio pra ficar. Quando se encontraram novamente, o abraço que provocou reações por todo o corpo de Ana, como uma corrente elétrica a percorrê-lo, foi uma confirmação: não é que o magnetismo entre eles voltou a existir. É que, simplesmente, nunca havia deixado de existir. E dessa vez o beijo não foi de despedida: foi a marca de um recomeço. Dali por diante, seus corações, seus corpos e suas almas aceitariam o laço que jamais foi nó. Eles permaneceriam conectados, juntos e felizes. Finalmente. Sob o sol que voltou a nascer.
Caso queira saber como essa história começou, clique aqui.
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