quarta-feira, 4 de setembro de 2013

E parecia que era minha aquela solidão

Fazia frio intenso. Marco permanecia parado na porta da biblioteca da faculdade. Apenas observava Alana. Que por sua vez, não conseguia se concentrar no relatório que digitava em seu notebook. Seu pensamento estava longe após descobrir que o rapaz a quem amava estava em outra. Outra garota. Ocupando o lugar que Alana julgava que deveria ser dela. Marco sabia bem desse amor que Alana sentia.  Talvez porque qualquer dia desses ela havia deixado uma carta cair na sala, no horário da saída. Marco havia encontrado a carta e guardado consigo. No fundo ele desejava que aquelas palavras fossem direcionadas a ele. E não compreendia porque Alana insistia em manter um sentimento por alguém que a ignorava completamente. Mesmo que ele também, por muitas vezes, já tivesse passado por isso. 
Ela sempre sozinha, arredia e de poucas palavras. Discreta, falava baixo e era difícil ler o olhar por trás de seus óculos. No fundo, ela tinha medo. Talvez, estivesse cansada demais para permitir que adentrassem seu mundo novamente. Afinal, sempre acabou mal.  Ele, o típico bom moço. Tímido. O amigo sempre presente. Mas era sempre difícil se aproximar de Alana. Era como se houvesse uma barreira em volta dela. Tinha medo de parecer invasivo, inconveniente, então sempre preferiu admirá-la de longe. Ele, dedicando-se a esse amor platônico. Ela, presa a um amor não correspondido. Algumas carteiras os separavam na sala, no momento das aulas. Mas nada os separava mais do que os muros construídos por sentimentos tão conturbados. 
Naquela noite, alguma coisa fez com que Marco tivesse coragem de se aproximar. Deixou o medo e a timidez de lado e foi até ela. Nunca antes havia conseguido estender a conversa além de um 'olá, tudo bem? Tudo'. Mas dessa vez ele tinha que tentar.
- Oi. Me desculpe por interromper você, mas...eu estou com um par de ingressos para a peça que irá estrear esse fim de semana. - constrange-se com o olhar de reprovação de Alana, mas ainda assim, continua - eu estive pensando se...se você não gostaria de ir comigo - concluiu, meio sem jeito.
Alana inventou uma desculpa qualquer, muito educadamente,  para não aceitar o convite. Ainda assim, deixou o notebook  de lado e se dispôs a conversar. Assuntos rotineiros, e sempre com uma pausa de silêncio constrangedor.
- Devo confessar a você que não estou conseguindo me concentrar neste relatório - Alana deu um riso de leve.
- Por que você não vem tomar um café comigo? Talvez te distraia um pouco, e depois você retoma o seu trabalho mais tranquila.
- Me desculpe. Realmente preciso terminar esse relatório com urgência. Mas agradeço sua atenção, muito obrigada mesmo!
Na verdade, o relatório nem era tão urgente. Urgente mesmo, era a sua dor. Sua solidão. 
Marco se despede e vai, cabisbaixo, tomar o seu café sozinho. Sozinho. Ele era de poucos amigos, mas tinha amigos. Alana estava sempre sozinha e isso o intrigava. Não era possível compreender porque a solidão dela doía tanto nele. Sentia que ela precisava ser salva. Mas sabia que não poderia forçar nenhuma situação, ainda mais agora, após essa reação. Ao mesmo tempo que não queria entender como ela conseguia se dedicar tanto àquela dor, como se gostasse de senti-la, no fundo ele compreendia por já haver estado lá também. Lá, naquele estado, em que existe meio que um masoquismo em relação a dor do amor que não vinga.