terça-feira, 8 de agosto de 2017

A última carta

Eu, meio que sem querer, tentei te trazer de volta pra minha vida. Como um amigo, um colega, uma lembrança distante (ou nem tanto). Mas não deu. Teu lugar não é e nunca foi aqui. Ao menos foi o que aprendi há um bom tempo. Semanas atrás atrás assisti a um filme que falava de almas gêmeas que, quando se aproximavam um do outro, perdiam as forças. E com o tempo isso ia acontecendo cada vez mais rápido. Não estou dizendo que em algum momento acreditei nessa história de almas gêmeas, não com a gente. Sempre fomos incompatíveis. Incompatíveis a ponto de eu não conseguir entender até hoje o que nos aproximou. Talvez o seu olhar triste sempre escrito "mantenha distância" tenha instigado meu coração, que é desses bobos que sempre acham que podem ajudar de alguma forma. Não sei ao certo. Há coisas que não se explicam. Sempre respeitei essa distância, sempre. Sempre respeitei teu muro ao redor. Talvez no fundo você quisesse que eu chegasse "arrombando a porta", mas me desculpe, minha audácia tem limites, nunca soube ser invasiva (e ainda assim acabei sendo, sem querer, mas tudo bem, todo mundo erra). Essa tua confusão interna se parecia tanto com a minha, talvez isso tenha nos atraído no passado.  Eu não confundo as coisas, sou intuitiva e perceptiva o suficiente pra sacar que nunca teve nada a ver, e se teve, acabou. Além do mais, eu te esqueci, sim. Há muito tempo. Te esqueci como o amor que não tinha razão de ser. Mas não te esqueci como a essência que sempre enxerguei. E eu te quis perto. Como um amigo, um colega, uma presença. Mas não deu certo. Não pra mim. Eu me sinto "sem forças" quando você se aproxima, no sentido de um desconforto que também não sei explicar (ou só não quero). Eu espero, agora, estar falando com a tua alma, porque o teu ego, creio eu, não seria capaz de entender. Você foi mais uma das pessoas que não foram feitas pra permanecer na minha vida. Lembra que eu te disse: "de novo?!" Duvido que se recorde. Mas é. Eu entendi isso há muito tempo. E hoje entendo que, mesmo que você nunca tenha se importado, isso também não importa. Eu me importei. De alguma forma, sempre vou me importar. Mas daqui, do meu lugar. Que não é perto de você. E tá tudo bem.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

A Rosa

...E então, ela pediu para encontrar uma rosa cor de rosa, como um sinal de que ainda existia amor. Por todos os lugares ela via imagens de rosas cor de rosa, na ilusão de que fosse um "sim". Como se não soubesse que, tudo a que damos atenção, se expande, e que era por isso que encontrava rosas em todo lugar. Mas o coração gostava de sonhar. Eis que, naquela tarde chuvosa, ela encontrou uma rosa cor de rosa em uma floricultura qualquer. Comprou. Comprou também um jarro bem bonito, onde a colocaria. E cuidou daquela rosa como se fosse sua filha. Ela seria o seu canal de comunicação com aquele amor perdido. E todos os dias ela dizia à rosa: "não importa o que passou, eu me importo com você. Não importa que pareça exatamente o oposto,  eu me importo com você. E mesmo que eu nunca mais te veja, continuarei a me importar. Onde quer que você esteja, só espero que saiba."
Dentro de poucos dias, a rosa murchou. Veio também a certeza de que não era amor. Talvez nunca houvesse sido. Mas não importava. Mesmo que doesse, receber amor não era tão importante quanto emaná-lo. E assim, ela compreendeu que era melhor não colher uma rosa, mas deixá-la viver. Que não tentar possuí-la era deixá-la viver. Que algumas pessoas cruzaram o seu caminho para ser amadas, para aprender, para ensinar, mas não para permanecer. 

domingo, 26 de março de 2017

Sob o Mesmo Céu

Quando você olha para alguém somente com os olhos "físicos", por assim dizer, você vê pouca coisa: tudo se limita à aparência, ao que "parece ser". Mas olhar apenas com os olhos é algo que não a pertencia mais, há algum tempo. Ela não sabia exatamente quanto tempo. Sempre que o outono chega, vem essa vontade de contar pra vocês um pedacinho de alguma história. E a que eu vou contar agora é sobre uma menina e um garoto. Ele tinha um quê de mistério, sabe? Aquelas pessoas incógnitas que a gente fica o tempo todo querendo decifrar. Mas ela, que detestava ser invasiva, ficava observando de longe,  só na vontade. Não ousava decifrá-lo. Ela olhava e pensava: deixa ele aí, sendo o mistério que quer ser. Porém, para uma pessoa intuitiva, é difícil não ver além. Depois que a gente aprende a enxergar tudo com a alma, se torna involuntário. Ela via aquele muro de proteção que ele havia erguido, mas também via uma mão estendida. Que depois se escondia. Sabe aquele tipo de pessoa que dá um passo pra frente e dois pra trás, como quem guarda e protege um tesouro precioso? Era exatamente assim. Não sabia por qual razão, essa defesa ao mesmo tempo que a afastava, a encantava. Ele era um quadro que ela só queria apreciar de longe. Ela tinha medo de chegar mais perto. Ela sentia que, caso se aproximasse, ele se afastaria para sempre e então ela não iria mais poder contemplar a beleza do que era diferente e singular. As pessoas podem até ser espelhos, sim. Ainda tinha tanto dessa proteção nela, também. Em tantos contextos. Mas, mesmo se protegendo, ela ainda sentia a necessidade de cantar bem alto. Porque ela era a música, ele era o silêncio. E, mesmo tão diferentes, aquilo a atraía. Parecia que aquela diferença era exatamente o que ela ainda não havia experimentado, mas era uma peça essencial de algum quebra-cabeça. Algo que ela precisasse aprender, talvez. Algo que ela precisasse compreender. Enfim...ela decidiu simplesmente aceitá-lo. Aceitar a distância, aceitar as diferenças, aceitar que aquela peça talvez não se encaixasse exatamente na sua vida naquele momento e que, por mais bonito que fosse, se ela quisesse contemplá-lo, teria que ser de longe. E tudo bem. Porque o quebra-cabeça talvez não fosse a "sua" vida, mas a existência em si. E a beleza das coisas não está no quanto elas nos pertencem, mas em como elas nos fazem sentir. Nas emoções que despertam e na compreensão que trazem. A gente sempre cresce um pouco mais a cada peça do quebra-cabeça da existência que encontra nessa jornada: nem sempre essas peças se encaixam em nós, ou nós nelas. Mas tanto nós quanto elas, somos parte de algo maior. E isso por si só já é belo. Porque mostra que, embora diferentes, de alguma forma (maior e mais bonita) nós estamos ligados. Em algum momento, em algum lugar, eles estariam olhando para o mesmo céu. E isso era o suficiente para acalentar o coração dela. Às vezes, saber que você existe, pode fazer bem pra alguém. Já parou pra pensar nisso?