terça-feira, 15 de maio de 2012

É sempre mais difícil dizer adeus.


- Oi.
- Olá. - abaixei a cabeça. Sempre me constrangia te encarar depois de tudo.
Silêncio.
- Esperei muito por esse momento.
- Esperou, nada. Foi só uma coincidência. - disse, ríspida.
Levantei a cabeça e olhei fixamente em seus olhos. Era como se todas aquelas pessoas ao redor não existissem, era como se só houvesse espaço pras luzes da cidade e dos estabelecimentos que ainda funcionavam, e nós dois, separados pelo muro que você colocou. Entre nossos corpos. Entre nossos lábios. Entre nossas vidas.
- Agora diga-me, olhando nos meus olhos, como você foi capaz. - eu tenho certeza de que meu olhar foi tão frio, seco e direto como minhas palavras. Eu queria ouvir a verdade, então precisaria agir friamente como uma forma de sobreviver. Mais uma vez.
Não houve resposta. Houve lágrimas. A boca mentiu, os dedos mentiram, olhares mentiram. Seriam as lágrimas de mentira, também? Você deveria ter estudado teatro. Lágrimas não respondiam, tampouco me convenceram.
Quantas vezes tentei te dizer adeus e desaparecer, mas alguma circunstância qualquer sempre trouxe você de volta. Era difícil saber o que curaria essa dor mais rapidamente, mas parece que enfrentá-la de frente me fortalecia muito mais do que fugir.
- O táxi chegou. Eu tenho que ir. - não, não adiantaria você me pedir pra ficar ou se oferecer pra me acompanhar, porque eu precisava voltar sozinha. Voltar pra mim. Me encontrar novamente. A procura por quem eu fui, era, me tornei, parecia não ter fim. E você não estava ajudando.
- Se cuida...
Pensei em dizer adeus, mas novamente não pude.
-Até mais.

sábado, 5 de maio de 2012

Fim da viagem: bem vinda à vida real.

Jogou o resto do vinho pia abaixo. Quebrou todas as lembranças. Queimou cartas e fotografias. Desfez de tudo que a fizesse recordar. Decidiu exorcizar seus demônios numa espécie de ritual que era como se pudesse renascer das cinzas e começar de novo. Fez do silêncio seu grito de liberdade. Decidiu que sua própria companhia era a melhor companhia do mundo. Reuniu todas as forças que pôde encontrar no fundo do baú da alma. Achou por bem olhar para frente, tão somente, a partir de agora. Havia formado um novo conceito e esse era o único que valia, daquele momento em diante. Juntou tudo que pôde de aprendizado e anotou cada tópico no caderninho de sua mente. Juntou todas as armas e decidiu ir à luta. A batalha era contra toda a mágoa, toda a dor, cada fantasma interno, assombrações que a roubavam o sono, questionamentos, dúvidas. Quis mais do que enterrar a dor: desintegrá-la. Não seria num passe de mágica. Não seria de um dia pro outro. Mas estava dando o primeiro passo rumo à superação e ao esquecimento. Esquecer era impossível pra mente, mas cabível ao coração. Questão de honra. Questão de vida. Morte? Só das coisas que doíam. O silêncio iria doer. A renúncia estava doendo. Mas qualquer dor naquele momento, era mais suportável do que a dor da mentira. Da decepção. Da confiança que se quebrara em mil pedaços. A dor da renúncia e do silêncio era um mal necessário, pois somente eles trariam a cura, a libertação; uniriam novamente os pedaços do coração estilhaçado (porque esse, ao contrário da confiança, tinha conserto), restabeleceriam sua estrutura e colocariam as coisas de volta em seus lugares, abrindo novos caminhos e mais do que isso: preparando-a para segui-los. Mais forte. Mais astuta. Mais confiante. Mais experiente. Nenhuma operação é simples pro corpo e mesmo a anestesia não o livra das dores posteriores, assim também era com o conserto da alma e do coração. Mas depois, viria o alívio. Viria um novo amanhecer. O sol brilharia novamente. Era a primeira vez em semanas que ela conseguia pensar nessa possibilidade: a de um novo dia que surgisse melhor. A de muitos novos dias que seriam bem melhores. Mais verdadeiros, com os ventos a seu favor e com as armas necessárias pra enfrentar adversidades e desviar das armadilhas. Mais fortes e sagazes, como estavam aprendendo a ser, agora, o seu coração e a sua alma.


ılı.lıllılı.ıllı..ılı.lıllılı.ıllı  ♫  Engenheiros do Hawaii - Novos Horizontes