sábado, 1 de outubro de 2016

Perfeitamente Imperfeito

Tempo frio, nublado. Nem sinal daquele solzinho que engana  e aquece por alguns instantes. E o vento leve e gelado me faz lembrar de algumas combinações que parecem perfeitas, mas nem sempre dão certo. Não me sinto combinando com esse clima. Gosto de temperatura amena e céu aberto. Não me sinto combinando com incertezas. Acho que meu ego necessita da ilusão do controle.
Na verdade, a minha alma é que curte estar em paz. Aquela paz que eu prometi a mim mesma, mas que durou tão pouco. Mas tudo bem. Às vezes a vida pede que a calmaria dê um tempo. Às vezes faz falta um pouco de tormento. Dependendo do humor (ou não), eu resolvo tomar sorvete no frio e sopa bem quente no calor. Porque às vezes as contradições parecem combinar, em outras, a gente quer compatibilidade. Talvez sejam desculpas pra justificar a fuga só porque não quer se machucar. Olhos claros são bonitos, mas uma alma transparente é muito mais - independente da cor dos olhos, uma alma transparente nos deixa à vontade. Porque quando as almas se encontram, quando conseguimos ver além, não existe espaço para o medo. Está tudo ali, escrito no olhar. Nítido. Tudo isso pra dizer que a gente parecia se encaixar perfeitamente mesmo não tendo quase nada em comum. Mas, em pouco tempo, um muro foi surgindo, e crescendo. E, creio eu, hoje estamos cansados demais para tentar pulá-lo, quanto mais derrubá-lo. Acho que eu estou. Digo "nós", mas no fundo acredito que sempre existiu apenas "eu". Eu, que sou tão boa nessa coisa de ler almas, de ver além, de sentir a essência das pessoas...eu me sinto perdida, volta e meia. De repente, meu GPS interno falha, minhas anteninhas ficam defeituosas e não capto mais nada. Só o silêncio. Corações fora de área. Bateria fraca. Lembranças remotas que vão além dos fatos. Houve momentos em que estive certa de que era uma soma perfeita. A minha alma sentia isso, e dizia isso. Mas, de repente, as circunstâncias diziam o oposto. Sempre foi confuso, incerto. Tantas vezes lindo.  Uma coisa é certa: eu não fico onde não me cabe. Não fico onde não me encaixo. Posso ser tudo, menos invasiva. Sempre sei o momento de me retirar (ou acho que sei). Porque as coisas são assim, ora fazem sentido, ora não. Mas nem por isso deixam de ser belas (ainda que um pouco tristes). Coisas que não são pra ser, mas que ficam na memória, no coração. Adormecem, despertam, chegam e se vão. Talvez fosse pra ser sim, mas de um jeito meio torto. Assimétrico. Difícil de explicar, complicado demais pra entender. Do nosso jeito. Perfeitamente imperfeito. 

Um comentário:

Ellen Visitário disse...

É engraçado como a gente planeja um futuro que não nos pertence, né? Ou, ao menos, não nos pertencia desde então. O jeito é tocar. Do jeito que dá e do jeito que tem que ser!

Um beijo, Mari!

Você escreve muito bem!