domingo, 5 de janeiro de 2014

Só depois de perder você descobre que era um jogo

Eles eram os melhores amigos. Combinavam em tudo. Estar com Clara era sempre agradável para Lucas. Ambos não viam o tempo passar quando estavam juntos. Eram confidentes. Se pareciam em tudo. Já haviam arranjado muitos conflitos em seus relacionamentos por ciúme dessa amizade. Tudo começou quando Lucas terminou com uma namorada, há alguns anos. Eles se conheceram, começaram uma amizade, e ele sempre pedia conselhos à Clara, na tentativa de tentar entender a conduta e as confusões femininas. Clara também se sentia à vontade com Lucas e buscava refúgio nele sempre que sofria alguma desilusão amorosa. Mas a amizade deles não se limitava a esse tipo de assunto. Riam juntos, jogavam partidas de vídeo-game, bebiam juntos e jogavam bilhar. Era quase uma irmandade. Quase. Até aquela tarde de final de ano.
Os namoros de Clara nunca incomodaram Lucas. Assim como as paixões de Lucas nada causavam em Clara. Eles sempre ficaram felizes com a felicidade do outro. Mas naquela tarde tudo passou a fazer sentido...ou não. Lucas mandou algumas mensagens para Clara. Ela sempre respondia prontamente, mas passou-se um dia e não houveram respostas. Lucas estranhou, mas enfim, não deu muita importância, afinal, tantas coisas poderiam ter ocorrido para que não respondesse. Talvez ele fosse acostumado demais à presença dela e um simples dia sem mensagens, sem notícias, era desconfortável. Mas enfim, procurou não pensar nisso.
Clara havia terminado um relacionamento há pouco mais de um ano. Para todos ela havia superado. Cortado todos os vínculos. Mas o passado, nesses casos, sempre dá um jeito de voltar. E Gabriel- seu ex namorado- havia reaparecido naqueles dias. Ninguém sabia. Nem mesmo Lucas. Talvez pela vergonha de admitir que ainda existiam sentimentos ocultos, Clara não havia contado a ninguém- nem mesmo ao seu melhor amigo- deste reaparecimento. Ela tentou lutar contra isso, mas foi inútil. As lembranças do que vivera ao lado de Gabriel falaram alto demais. E o fato de ele haver decidido se mudar daquela cidade distante para a cidade em que Clara residia (segundo ele, por causa dela) a fez renunciar ao orgulho.
Semanas se passaram. A caixa de entrada de Lucas continuava vazia. Não era normal aquilo, definitivamente não era. Mas ele não queria ligar. Se ela não se importava mais, por que ele deveria? Aliás, por que ele se importava tanto? Havia algo de errado no sumiço de Clara. Havia algo de diferente nos sentimentos de Lucas. No fundo ele sabia. Só não queria admitir. Não poderia aceitar. Ela era como uma irmã para ele. Era? 
E foi naquela tarde de sexta-feira que Lucas decidiu sair para um bar qualquer, distrair a cabeça. Sozinho. Durante o tempo em que Clara e Lucas estiveram sozinhos, sem relacionamentos, o laço entre eles se fortaleceu mais. Ela sabia disso.  Lucas não conseguia parar de pensar em Clara. De recordar as conversas, as risadas, as confidências, os momentos juntos. Não podia ser. Mas era.
Ao chegar no bar, pediu uma cerveja. E antes que pudesse tomar o primeiro gole, não pôde acreditar no que via. Era Clara, ali, à sua frente. Com Gabriel. Sorrindo. Foi nesse momento que seu coração se partiu em milhões de pedaços, como jamais esta que vos escreve poderia imaginar que o coração de um homem pudesse se partir. Impulsivo, ele foi até a mesa deles.

-Clara...eu ia perguntar o que aconteceu, por que você sumiu assim...mas nem precisa! - ele disse, desapontado.

Clara arregalou os olhos, surpresa, por não esperar vê-lo ali. Levantou-se e com a voz trêmula respondeu, titubeando:

- Lucas...me desculpe, eu...não queria te magoar.

- Você não tem nada que me explicar - Lucas disse, num tom frio, e saiu, deixando a cerveja largada em cima da mesa.

'Ela sabia.  Ela sempre soube! Soube antes que eu mesmo pudesse saber! E mesmo assim não hesitou em me machucar assim.' Lucas conversava consigo mesmo em pensamento enquanto caminhava sem rumo.
Quanto à Clara...foi difícil explicar a reação de Lucas a Gabriel (que em tempos anteriores já não gostava dessa amizade, menos ainda agora).
Dizem por aí que é mais fácil amizade se tornar amor, do que amor se tornar amizade. Deve ser mesmo. Lucas não conseguia se perdoar por haver deixado aquele sentimento brotar. Sentia-se rejeitado. Trocado. Deixado de lado. Até mesmo enganado. Ela sempre contou tudo pra ele, por que havia escondido? Naquele momento ele não acreditava mais na amizade que um dia existiu. E se não podia acreditar em Clara, não poderia acreditar em mais ninguém. Ficou claro que ela sabia dos sentimentos dele antes mesmo que ele se desse conta de que sempre a havia amado. Ficou claro através daquela frase: 'Eu não quis te magoar.' Mas ele amava sozinho. E sentia como se só ele tivesse sido verdadeiro o tempo todo, como se ela tivesse jogado com ele. E é como diz na música: só depois de perder você descobre que era um jogo.

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