terça-feira, 11 de março de 2014

Um telefonema bastaria, passaria a limpo a vida inteira

Era noite e o telefone de Luisa tocou. Poderia ser qualquer pessoa: uma amiga ou uma daquelas ligações por engano que ocorriam com certa frequência. Mas seu coração disparou ao ouvir aquela voz. Após tanto tempo de silêncio, Renan finalmente havia dado o ar da graça. Luisa acreditava que eles nunca, nunca mais se falariam. E agora ele estava ali, ligando pra ela.

- Tudo bem? - perguntou Renan, meio sem jeito.

- Tudo...quer dizer, quase. - Luisa respondeu mais sem jeito ainda. 

E diante de um "não entendi" de Renan, Luisa explicou o quanto havia se chateado com a atitude dele, enquanto ele se queixava do sumiço dela:

- Você não quis mais falar comigo, por isso não estou compreendendo sua ligação...

- De onde você tirou isso? - ele perguntou.

- Como de onde? Você não retornou nenhuma de minhas ligações, me evitou. O que queria que eu fizesse? Sou uma ótima entendedora, e pra mim ficou muito claro que você não queria mais falar comigo. E eu não sou do tipo que precisa implorar pela atenção de ninguém.

- Eu não soube de nenhuma das suas ligações. Certamente minha irmã não fez muita questão de me dizer que você havia ligado, já que eu estava sem falar com ela. Então achei que VOCÊ não queria mais falar comigo. E como eu também não sou de implorar pela atenção de ninguém...

Tudo não havia passado de um mal entendido. Um daqueles bem tolos. A rotina de Renan era corrida, o dia-a-dia de trabalho e faculdade era bem cheio, e com a falta de comunicação com sua irmã Paola, ele nunca soube que o afastamento de Luisa se deu justamente porque ela se importava demais. Assim como ele se importava demais, mas ambos não queriam explicitar isso. Por medo, por despreparo para uma possível relação e por orgulho. 
O fato é que Luisa nunca esqueceu daquele encontro numa noite chuvosa. Renan também não. Luisa ainda se lembrava claramente do olhar tímido de Renan. Renan sentia falta de rir com o modo como Luisa ficava sem graça diante de um elogio, e como ela falava sem parar quando estava tensa. E depois ficava em silêncio, aparentemente tão tímida quanto ele. E os dois sentiam falta do tanto que tinham em comum.
Depois de um "me desculpe, entendi tudo errado" de ambos, falaram sobre as novidades e o que tinham feito naqueles meses em que estiveram afastados. E depois...o silêncio.
Renan sempre ficava tímido diante da desenvoltura de Luisa ao se expressar. E ela sempre ficava boba quando falava com ele, e a certa altura as palavras simplesmente desapareciam. Não por falta de assunto. Não por desinteresse. Simplesmente porque ele exercia esse tipo de efeito sobre ela: a deixava boba, sem palavras. Justo Luisa, que levava tanto jeito com as palavras e as tinha como suas melhores amigas, ficava sem elas quando estava com Renan. E ele nunca sabia o que dizer no minuto seguinte. 
Dois bobos. Dois tolos, que interpretavam o silêncio sempre da maneira errada.

- Então até logo. Ah...foi bom falar com você.

- Igualmente! Tchau!

- Tchau.

Um comentário:

Ellen Visitário disse...

Eu tenho um pouco desse jeito da Luisa. Perco as palavras quando eu mais preciso delas.
Mas estou aprendendo a lidar com as mesmas e a falar na hora que for preciso, e principalmente, com quem for preciso. E espero que a Luisa consiga alcançar este mesmo feito.

Lindíssimo conto, Mari! Como sempre! =)

Beijos!