segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Correspondência

Inspiração é uma coisa meio louca. Ela vem do nada e nos toma de assalto, como uma voz dizendo: vai lá e escreve, só escreve, deixa o resto comigo, eu te conduzo. Sabe, às vezes eu me sinto assim, como se algumas coisas que eu escrevesse não fossem exatamente as "minhas" palavras. Mas enfim. Hoje me peguei lembrando de um texto que escrevi. Um dos melhores, eu diria. Talvez porque tivessem sentimentos fortíssimos pulsando e me guiando as mãos naquele dia. Mas o fato é que escrever aquele texto era vital enquanto a dor me consumia: era uma forma de falar com você e te dizer adeus direito. Não aquele adeus sem sentido. Não o vazio do abraço que achei que me surpreenderia depois que ambos viramos as costas, mas que nunca aconteceu. Era uma forma de expulsar e aliviar tudo que doía dentro. E eu havia criado uma obra prima. Mas depois de um tempo, eu apaguei aquelas palavras. Deletei porque senti raiva. Deletei porque queria deletar sua existência em minha vida. O que não foi possível tanto quanto as palavras que, mesmo não tendo restado um rascunho sequer, ainda existem em algum lugar qualquer da minha memória.
Eu me acostumei a falar com você em pensamento e dizer que embora tudo tenha acabado em todos os sentidos possíveis sem sequer ter "começado", eu me importo. Daqui. Da distância que, creio eu, talvez fosse melhor que nunca tivesse deixado de existir. Querer o seu bem redime a minha alma. Porque, apesar de tudo, no fundo é sim o que quero. 

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"Por mais que você acredite que não, eu me lembro de cada detalhe exato daquele dia e de todos os que o antecederam, e isso dói em mim (tudo o que não tem razão de ser). Mas você sabe que sempre escondi, evitei e fugi das minhas dores. Aprendi a fazer isso muito bem."

Um comentário:

Ellen Visitário disse...

Seus textos são fantásticos, de verdade. E sempre gosto de passar por aqui para lê-los e relê-los.

E concordo com você: às vezes tenho a sensação que é a inspiração que me conduz quando eu escrevo. E, por incrível que pareça, eu só considero bons os textos que escrevi nas minhas piores fases.

Enfim.

Escrever é expulsar os nossos demônios!

Beijos, Mari! <3