segunda-feira, 30 de abril de 2012

O fim do silêncio: canção que não acabou.

Sobre a escrivaninha, o copo com resto de café. É impossível me concentrar no trabalho que preciso apresentar na próxima semana. Estou tão agitado que a cafeína já não faz mais diferença. É tão perturbador pensar nessas duas últimas visitas. Na visita anterior já era possível enxergar algo além de um olhar vazio. Eu via um olhar de desespero. Não sei se você já estava me reconhecendo, mas eu podia ver claramente que você estava presa dentro de si mesma. Seus olhos gritavam por socorro. Você parecia querer ser retirada desse mundo interno. Naquele momento eu desejei tanto ser o príncipe que te resgataria da torre, como tantas vezes eu havia dito ao me declarar pra você. Mas antes que eu pudesse tentar qualquer aproximação, você me agrediu ferozmente. Como um animalzinho que ataca ao se sentir ameaçado. Olhar pra você e lembrar do que você era, e agora, encarar o que você se tornou, foi a experiência mais sofrida que eu já pude ter na vida. 
Hoje vi novamente seu olhar implorando por socorro. Eu queria tanto poder trazê-la de volta. Ouvir sua voz novamente. Há meses você já não falava mais, nem mesmo com seus familiares. Isso era tão angustiante. Eu preferia que fosse comigo. Eu sim mereceria esse castigo, não você. Mas dessa vez, houve algo além de um olhar de tristeza perdido na escuridão. Você me olhou fixamente, me encarou. Foi então que eu pude ter certeza de que você de alguma maneira estava me reconhecendo. Você se aproximou de mim e, mesmo correndo o risco de ser agredido novamente (e quem poderia imaginar que você tivesse tamanha força), me mantive quieto. Apenas esperando qualquer reação sua. Eu mereceria se você me agredisse. Mas não, você não me agrediu. Você simplesmente continuou olhando, e após tantos meses de silêncio, pronunciou o que seriam suas primeiras palavras desde que tudo mudou:

- Eu...odeio você.

Naquele momento eu a abracei, não tive como me conter. Eu me senti o homem mais feliz do mundo por estar ouvindo novamente a sua voz. Você ali, imóvel nos meus braços. E eu, que chorava como uma criança, da maneira que poucos homens se permitiriam. A doutora me disse que de alguma forma, minha presença te inquieta, e faz com que você reaja, que isso é um progresso. Não importa quanto tempo passe, quanto tempo tenha se passado. Não importa que as folgas no trabalho sejam pouquíssimas e a distância entre as cidades. Eu irei continuar passando pelas portas e corredores daquele hospital quantas vezes forem necessárias. Não me interessa a "vida normal" que as pessoas dizem que eu tenho que ter. Me interessa que você melhore, que você se cure. Você é e sempre foi a minha motivação. Não faço isso apenas por me sentir responsável, por remorso ou culpa e muito menos por esperar ser perdoado. Faço isso acima de tudo porque te amo, como nunca antes ousei amar na vida. Se a minha presença está fazendo com que você volte a reagir e, tão ironicamente, contribui para a sua recuperação, mesmo que levem mil anos, eu estarei com você, e você vai sair de lá. Tudo o que quero na vida, o que me mantém vivo e lutando por um futuro melhor, é a esperança de ter a minha Madeleine de volta. Ainda que sua felicidade não seja ao meu lado, e que você se afaste de mim pra sempre depois que ficar boa. E pouco me importa os que acreditam que eu sou louco.


ılı.lıllılı.ıllı..ılı.lıllılı.ıllı  HIM - Circle of Fear

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